sexta-feira, 16 de março de 2007

Respingo de Silêncio

Trecho da Crônica : NO SILÊNCIO DE MINHAS PALAVRAS

18/07/2001

No silêncio de minhas palavras, as vezes fico a perguntar : “Por que Déborah tem que ser assim ? “Por que não tem a liberdade de seus pensamentos, de suas palavras? “Por que precisa sempre de alguém para ir aonde quer ? “Por que não pode me aborrecer com as mesma tagarelice e travessuras da sua irmão de apenas quatro anos ?
Vê-la ali na minha frente, tão linda! inocente, alheia à vida que passa tão lentamente, mas que chega tão rápida, vê-la tão dependente da nossa presença, da nossa dedicação, faz-me amá-la cada vez mais.


(... )


Com o tempo vi Deus manifesta-se em minha filha em cada sorriso, em cada olhar, em cada gesto seu de felicidade ao me ver chegar. Através dos versos que fiz para ela somei grandes amigos que multiplicaram minha fé através do seu carinho para com ela. Em cada minuto que passo ao lado de minha pequena flor eu sinto-me inspirado para falar de amor. Falar do meu silêncio e antes de tudo compartilhar com as pessoas um pouco de minha felicidade e da fé que me sustenta

Transcrito do Livro (NP) O Diário de Déborah
Barbarah é realmente a irmã que Debinha pediu a Deus, pois ela se orgulha da irmãzinha. ás vezes sente um pouco de ciúmes, mas é só para demonstrar o seu grande amor também por mim e sua mãe. Nós a amammos muito. Ela é o nosso raio de luz.
Déborah e Barbarah

quinta-feira, 15 de março de 2007

Fragmentos

Transc do Livro O Diário de Déborah”
Autor Vaumirtes Freire


A luz pálida do abajú, se curvava diante de sua brancura e adormecia enroscado nos seus cabelos dourados. O silencio, que dormia abraçado com os vários ursinhos de pelúcia, vez por outra acordava devido o barulho do ventilador que roncava, assoprando o mosqueteiro alvo que a protegia das muriçocas que ainda perambulavam embriagadas de sono.
Um longo facho de luz descia por entre uma telha quebrada e se aventurava no escuro do quarto. Era o braço transparente da lua que, aproveitando a ausência do sol, acariciava a minha pequena flor durante seu sono.
Ao beijá-la no rosto senti que Deus beijava meu coração.

Trecho da crônica O POETA E O SONHO “


Quando em alguns minutos sento-me para meditar, talvez procurando inspiração para escrever poesias que geralmente vêm em revoadas, sem que as procuro, viajo ao passado em busca do meu trem azul ( o mesmo trem que busca nas suas insônias a poetisa Iracema Bento ), ou busco o brilho do olhar de Déborah e Barbarah, que me aprisionam na liberdade de poder sonhar em ser criança novamente.
Então... Sem ruídos, sobre trilhos do silêncio, chega o trem azul repleto de recordações. Em cada vagão uma estória, um sonho vivido por uma criança, em cada sonho a felicidade e o poder de esquecer deste mundo capitalista selvagem, que somente os dinossauros do poder se acham no direito de sobreviver.
E ali, no divã do meu silêncio, resolvo sentar-me na estação da saudade, onde busco sonhos e outras maneiras de encontrar a felicidade. É assim que volto a ser criança, volto a acreditar em meus sonhos, e quando menos espero, chegam bandos de poesias como se fossem aves de arribação em busca de um lago.

Trecho da crônica ONDE BUSCO AS POESIAS “
25/04/2002

Quem já viu Déborah andando, percebeu o tamanho da felicidade com que ela abraça os braços da liberdade, em desafios que só nós sabemos o seu valor. Ela adora andar. Talvez nem um passarinho no seu primeiro vôo consegue ser tão feliz quanto ela. E quando vem ao meu encontro cheia de sorriso nos lábios, e com um pouquinho de medo de cair, no olhar, só nós conseguimos ser mais felizes do que ela.. só nós: Suelane, Barbarahh e eu

Trecho da Crônica Onde andarão os meus sonhos?


Hoje Debinha só consegue andar de joelhos, nem por isso me deixa de fazer feliz, pois quando a vejo vindo de joelhos ao meu encontro imagino um pequeno anjo em oração, ás vezes percebo que flutua o meu anjinho azul...e eu choro com a sua felicidade de de ver chegar.

“ O SILÊNCIO DA FLOR”


“ Se a flor pudesse voaria com o beija-flor, mas como não sabe voar ela o espera cheia de saudade desde o momento que ele parte. Talvez ela, na sua inocência, nem saiba, mas o beija-flor apesar de voar é um prisioneiro dela.”


Era uma manhã de sábado quando ao chegar em casa encontrei Debinha deitada na área em silêncio a contemplar a fina chuva que sacudia em seus cabelos doirados gotas de luz, então escrevi assim em seu diário.
__________________________________________

22 de Setembro de 1999

O sereno que cai nesta manhã forma uma cortina d´água que desfia sobre o pequeno jardim, onde você repousa seu olhar em silêncio. Talvez procure entre as flores bordadas de branco, o seu beija-flor.
Ah! Como eu queria ouvir a sua insistência me pedindo para ir tomar banho na chuva, ou quem sabe a sua reclamação por não ter comprado uma boneca que viu na vitrine de uma loja.
Como eu queria me impacientar por me encher de perguntas na hora do meu programa favorito, ao invés de vê-la ta silenciosa como se quisesse me perguntar algo sem saber como.
Seria tão bom se eu pudesse ter a felicidade de me aborrecer com você fazendo barulho na sala, ou até mesmo quebrar o enfeite de louça favorito.
Ah! Como eu queria me preocupar em ter que comprar o seu material escolar. Quem sabe eu não seria mais feliz, se tivesse que todo mês a obrigação de para a sua mensalidade escolar. Eu seria feliz mesmo que elas subisse todos os mês.
Seria um sonho para mim acordar com você me pedindo dinheiro para comprar a sua merenda escolar, e mesmo que eu não tivesse eu iria sorrir só por ouvir a sua voz me chamando papai.
Mas, talvez eu nem seria mais feliz como penso, pois felicidade igual a que sinto quando a vejo ta inocente, tão criança, lutando para conseguir dar os seus primeiros passos, é impossível.
Talvez eu pouco ligasse se você entrasse em casa correndo para os meus braços, porém quando a vejo estender aos mãos ao me ver chegar, como se quisesse criar asas e voar para o seu beija-flor, felicidade igual é impossível.
É difícil saber o que seria melhor quando já se é feliz, quando já conseguimos entender o porquê do silêncio das flores, mas uma coisa eu tenho a certeza, após conviver com você Déborah neste seu mundo cheio de mistério, eu sei que eu seria bem mais feliz se um dia eu pudesse ouvir, ao invés deste replica insuportável de silêncio, a sua voz me chamando de papai. Nem que fosse um única vez para depois se afogar outra vez neste mar de silêncio onde também naufrago os meus sonhos.
São 7horas e 40 minutos de sábado
O sereno ainda banha o jardim. Você esquece-o e silenciosamente vira-se, flagrando-me a admira-la, neste momento sorrir apaixonadamente, como se tivesse encontrado em mim o seu beija-flor.

Transcrito do Livro : O Diário de Déborah – Autor Vaumirtes Freire

quarta-feira, 14 de março de 2007

UM PEQUENO MUNDO QUE NÃO CONHEÇIA.





" Meu sonho era vê-la um dia chorar ao me ver partir, ou quem sabe, sorrir ao me ver chegar, mas mesmo eu a chamando pelo nome, continuava perdida em seu silêncio, sorrindo para algo invisível que somente ela via...e eu chorava. "


Aquele pequeno mundo que Déborah se refugiava todos os dias, era por mim muito questionado. Eu não conseguia, de maneira alguma abrir a porta que pudesse me levar a ele, nem que fosse por algum instante.
Por mais que eu tentasse fazê-la notar minha presença, ela permanecia alheia a qualquer movimento ao seu redor, nem mesmo os brinquedos musicais, que por sinal eram inúmeros, nem os barulhos insistentes dos maracás que balançávamos na sua frente travam-lhe a atenção das argolas coloridas que rodava constantemente fazendo-lhe sorrir, numa alegria que me dava ciúmes. Eu não aceitava ser trocado por aquelas argolas...mas nada me fazia trazê-la para o meu mundo.
Girei várias vezes as argolas para Deborah, sempre que queria vê-la sorrir. Eu alimentava em mim uma esperança de um dia, quem sabe uma vez só, ela me percebesse.
A cada dia essa esperança aumentava. A cada mês eu percebia que algo estava mudando...eu perdia mais ainda Déborah para um pequeno mundo que nunca cheguei a conhecer. E mesmo pegando na minha mão várias vezes como se me pedisse para continuar girando as argolas, eu sentia que estava muito distante de mim...e ela já completava seus três aninhos de vida.
Todos os meus recursos pareciam esgotados. Meu sonho era vê-la um dia chorar ao me ver partir, ou quem sabe, sorrir ao me ver chegar, mas mesmo eu a chamando pelo nome, continuava perdida em seu silêncio, sorrindo para algo invisível que somente ela via...e eu chorava.
Chorei muitas e muitas vezes, enquanto ela sorria para as argolas coloridas que eu mesmo girava. Debinha era um pequeno anjo que eu não conseguia me comunicar. E na ansiedade de poder me comunicar com ela, eu, sem saber, era cúmplice, deste silêncio que roubava ela de mim.


Descobri que aquelas argolas coloridas, mesmo fazendo-a sorrir, lhe aprisionava numa outra dimensão, deixando-a distante de mm, mesmo estando ali, ao meu alcance. Por intermédio de alguns neurologistas, soube que o gesto de rodar qualquer coisa que estivesse ao seu alcance, era sintoma do altista, e que nós deveríamos impedi-la desse ato repetitivo.
Era então, essa a nossa missão: impedir que Déborah girasse qualquer objeto. E para cumprir tal missão, teríamos de perder o seu sorriso que ficou mais raro. Havia instante que eu, mesmo sabendo que não era correto, girava as argolas só para ver o seu sorriso.

Com o tempo, Debinha começou a se interessar por música, e quando algumas tocavam, ela começava a sorrir. Suelane e eu gravamos várias músicas que ela gostava e repetíamos sempre.
Entre muitas já passadas, hoje Déborah é apaixonada pela música “Amor Sem Limite” do rei Roberto Carlos. E quando Barbarah resolve fazer dupla com o rei, Debinha não dispensa uma gargalhada.
Porém, nada é mais importante hoje para ela do que a minha presença, por isso tenho renunciado a vários convites em que, por ocasião de horário, não posso levá-la. Ela parece já conhecer o som das minhas passadas, e ao perceber que estou chegando vem correndo ( engatinhando ) para os meus braços.

Suelane e Barbarah se revesam comigo na missão de fazê-la estar sempre presente no nosso mundo e as argolas coloridas se ainda existem, ela nem sequer percebe , pois seu mundo já não é mais tão pequeno e eu não poderia querer mais, pois como diz o rei: “Eu nunca imaginei que pudesse existir um amor desse jeito, do tipo que, quando se tem, não se sabe se cabe no peito.”

Transcrito Do Livro; “O Diário de Déborah” Autor: Vaumirtes Freire
_______________________________________________________
E quando estou lhe ensinando a andar e a vejo tão feliz, não acredito que possa existir algo que me faça mais contente, vendo-a assim, igual a um passarinho aprendendo a voar.

UM POEMA DE AMOR


Debinha
nos meus
braços com dois aninhos.

" Era uma pequena flor em silêncio que aprisonava
este beija -flor no seu mundo de paz."



" Eu vivia só na esperança de um dia ouvir sua voz,
mas até hoje ela ainda permanece em silêncio, parece até um pequeno anjo em eterna oração. "


Escrevi esta crônica no dia 23 de outubro de 1994. Faltavam dois meses para Déborah completar dois anos e eu já começava a perceber que não poderia exigir que a flor pudesse ter asas ou que falasse, como se isso fosse a única forma de ser feliz, pois descobri que um simples olhar de felicidade dela era suficiente para eu ser também, então, se minha filha era feliz, o que mais eu poderia exigir de Deus ?
E assim eu consegui ser muito mais feliz como sou até hoje ao lado de Suelane e de nossas duas filhas: Déborah, nossa flor e Barbarah, nosso raio de luz.


__________________________________________________________________________

Criei um mundo só nosso. Abandonei sonhos antigos, renunciei a tudo. Nada mais fazia sentido a não ser lhe fazer feliz, Déborah. Procurei em livros respostas para as minhas perguntas, mas em nenhum deles consegui encontrar algo que pudesse preencher o vazio que crescia dentro do meu coração, por lhe ver tão distante de mim, mesmo estando ao meu alcance.
Os dias para mim se passavam rápido, mas para você era como se tivesse parado, pois continuava, lentamente, tentando acompanhar o ritmo deste mundo tão longe do seu. Várias vezes refugiei-me num mundo imaginário, e nele eu lhe via correndo para me abraçar, ao chegar do colégio, com o rosto sujo de tinta pintado pelas tias; várias vezes me imaginei na obrigação de todo dia ir pegá-la na porta do seu colégio, e só depois que a última criança saía era que eu voltava a realidade... e lá estava você indiferente a mim e aos seus intocáveis brinquedos, se esforçando para engatinhar alguns centímetros do chão, que pareciam léguas.
E o que para muitos era rotina, para mim era um sonho, pois eu vivia num mundo só de fantasia, imaginando você correndo no lugar daquela criança que passava fazendo barulho na calçada; pensando ser você me pedindo a bênção aquela criança que me puxava pela roupa no centro da cidade, estendendo a mão pedindo uma esmola. Vi sonhos nos seus olhos tão meigos, quando em silêncio, me acariciava com o olhar como se lesse os meus pensamentos, querendo dizer-me para não abandoná-la um só instante. Talvez nem sabia que era eu quem lhe pedia a mesma coisa, pois ao seu lado aprendi a ser feliz. Aprendi a sorrir com a simplicidade de existir, e percebi o quanto são felizes os lírios do campo que se curvam, em agradecimentos, ao toque da mais leve brisa que lhe acaricia ao cair da tarde ou ao nascer do dia, mostrando-nos o quanto devemos ser gratos a Deus por nossa existência.
Em cada sorriso seu eu percebi a esperança brilhar, brilhar no seu rosto tão singelo, como se pedisse desculpa por alguma coisa.
Hoje você já nota a minha presença, talvez até distingue-me das outras pessoas, mas se não distinguir não importa. O importante é que já consegue me abraçar como eu sonhei um dia.
Talvez sinta a minha ausência, mas se não sentir, não importa. O importante é que sorri para mim toda vez que me ver. Seria tão bom se corresse para os meus braços ao me ver chegar, mas se não consegue, não importa. O importante é que me espera sentadinha com um sorriso que torna-me feliz como nunca fui antes.
Ah! Como eu queria que pudesse, mesmo que baixinho, e nem que fosse uma única vez, chamar-me de papai, mas se não consegue, não importa. O importante é que, apesar do seu silêncio, eu consigo escutar um voz mais baixa que o pensamento, me chamar.
Eu queria tanto que pudesse entender as estórias que lhe conto quando estamos sozinhos, ou que pudesse pedir-me para cantar uma canção de ninar para lhe fazer dormir, nas noites quando acorda sem sono. Talvez até queira e não consegue, mas não importa. O importante é que continuo a contar-lhe estórias e a fazer-lhe poesias, pois sei que um dia irá lê-las, então, se hoje elas falam de você para o mundo, amanhã falarão de mim para você.
Te amo, minha filha.
É impossível existir tanto amor e tanta felicidade, e no entanto existe. E o que eu posso querer mais ?
*****************************

Transcrito do livro : “O Diário de Déborah” Autor : Vaumirtes Freire

O ANJO AJUDANTE DE DEUS


Foto numa praça de Sobral
Barbarah no meu colo, Déborah e Suelane.

Esta crônica que segue foi escrita num momento de inspiração Divina, era como se Deus quizese me enviar respostas para as minhas inúmeras perguntas. Não consigo ler sem me emocionar.



07/11/2002

Deus lê uma relação de nomes num grande livro que o seu anjo ajudante segura. Ele faz a distribuição dos anjos que irá enviar à terra. A cada nome que cita explica aos pequenos anjos a sua função na terra.
Depois de uma hora de trabalho chama um pequeno anjo de cabelos dourados que observava tudo em silêncio.
- Encontrei uma pessoa a quem posso confiar você. Leve a ele minhas mensagens para que escreva a todos os outros que enviei, e, ou ainda enviarei meus pequenos anjos especiais, para que eles reconheçam o quanto são privilegiados por serem os escolhidos para tal missão.
Nesta hora o pequeno anjo ajudante fica confuso.
- Senhor, como isso será possível se ele não fala ?
- Ele fará do meu escolhido um poeta e através de seu silêncio, sua alma falará ao seu coração e ele, em suas inspirações, ouvirá minhas palavras e pensará que está ouvindo os pensamentos dela.
- Não seria mais fácil dar voz ao anjo, assim sua mensagem chegaria mais cedo ?
- Já fiz isso com alguns, mais poucos deram ouvidos. E demoraria muito para que ele (o anjo) falasse e quando isso acontecesse, poucos iriam dar-lhe ouvido. Assim, falarei diretamente a ele através de cada olhar, de cada sorriso ele irá perceber minha presença em todos os gestos do meu anjo especial.
- Diga-me, por que o escolheu, se sabe o quanto quer um filho para chamá-lo de papai? O quanto já o imagina correndo para os seus braços? Não irá ele desistir da missão, pois poderá se decepcionar e até duvidar da existência do Senhor?
- No começo irá questionar minha existência, sim. Pensará que o esqueci, mas com o tempo perceberá o quanto confiei nele, e que estou sempre ao seu lado. Jamais irá desistir de sua missão, pois eu darei a ele esperanças de um dia ouvi-la chamar de papai, e neste sonho cumprirá com mais dedicação e mais amor. Suas mensagens a cada dia tornar-se-ão mais belas, pois quero que faça com que as pessoas lembrem dos meus pequenos anjinhos, muitos deles aprisionados pelo preconceito.
- Quando será o dia em que ele ouvirá a voz do seu pequeno anjo?
- Ele saberá. Enquanto isso, continuarei falando ao seu coração. Farei mostrar a todos que é feliz. Muitos não acreditarão nele e alguns acharão que tenta se promover, mas ele vencerá todos os paradigmas, quebrando o preconceito que já conseguiu calar outros pais. Quando ele mais precisar de mm, eu lhe enviarei o meu melhor ajudante. Você.
O anjo sorriu, agradecido.
Quatro anos depois, Deus senta o seu pequeno ajudante no colo e lhe delega a sua missão tão esperada.
- Chegou o dia. Ele está precisando de nós. O nosso escolhido há meses, em suas orações, me pede para que fortaleça sua fé. Está um pouco cansado, mesmo assim, em nenhum momento reclama de sua missão. A sua futura mãe já o espera em seu ventre, vá logo. Você deverá proteger os três, deixe que eu me preocuparei com vocês quatro.
O anjo olhou a data de sua apresentação e Deus sorriu.
- Estamos atrasados, você só tem oito meses para nascer. Quando aprender a falar, seja tagarela, fale por vocês duas, ele está precisando muito deste carinho. Ame-o muito, pois em nenhum momento o amor dele por você será maior ou menor do amor que sente por sua futura irmã. Sua presença irá levar a ele a certeza de que eu nunca o abandonei. Essa mensagem ele fará chegar as várias pessoas, pois através do Meu Silêncio, farei que seja ouvido.
O anjo abraçou-se com Deus na sua despedida e Ele lhe agradeceu por ter sido, durante muito tempo, o seu ajudante.
E quando o seu anjinho partia com destino à terra, Deus soprou em seus ouvidos : “Não esqueça de falar ao meu anjo especial que eu o amo. Seja para Déborah o que a luz é para a flor. Eu te abençôo, pequena Barbarah.”

E no dia 05 de abril de 1997, quase um mês antes de completar os nove meses de gestação, Suelane deu a luz a um pequeno raio de sol a quem passamos a chamá-la de Barbarah.


Somente os que foram escolhidos por Deus para serem o protetor de seus pequenos anjos especiais e todos os outros que vieram para ser seu anjo ajudante, irão acreditar nesta pequena historinha que, às vezes, penso ser fruto de minha imaginação. No entanto, toda vez que leio, sinto como se não o tivesse escrito, é como se eu apenas transcrevesse a mensagem de um anjinho silencioso enviado a mim há oito anos, e que eu o chamei de Déborah.
Nesta quinta-feira, quando deixei esta crônica no jornal, Barbarah, o meu pequeno Anjo ajudante acabava de ser operada da garganta no hospital da Unimed. Ela no dia anterior, quando conversávamos sobre a operação, na sua inocência de criança me confortava: “Paínho, quando eu chegar do hospital eu vou gritar: papai, viu.” – parecia até que lia também os meus pensamentos.


Transc. Do livro “O Diário de Déborah “– Autor Vaumirtes Freire –

O SILÊNCIO DO MEU OLHAR

Quisera eu que Déborah pudesse andar sozinha, corresse pela calçada, teimando em pular do sofá para o chão igual a Barbarah, sua irmãzinha caçula, e mesmo que ela chegasse em casa com os joelhos feridos por ter se machucado durante o recreio, eu seria, com certeza, como ninguém jamais foi, um pouco mais feliz.
Mas, mesmo ainda não sendo possível este sonho eu sou feliz, porque aprendi a encontrar a felicidade nas coisas mais simples que me cercam. Percebi que sempre há um brilho no seu olhar ao me ver chegar. Vi no seu sorriso de felicidade que eu sou muito importante na sua vida, e ela, a cada dia, começa a cobrar mais um pouco deste beija-flor.
No entanto, não posso negar, que apesar da explosão de felicidade que há no meu rosto, não exista uma lágrima de silêncio no meu olhar, pois ,vez por outra, ainda chego a questionar, não mais a Deus, mas a mim mesmo:” O que eu poderia ter feito e não fiz? O que eu fiz e não era para ser feito ? O que ainda posso fazer e não faço ? Estou eu acomodado ?” Ninguém me responde. Os porquês se multiplicam e caem aos meus pés procurando respostas que nem eu mesmo sei onde estão.
Assim silencio-me no meu próprio silêncio, escondendo essas lágrimas, não de mim, mesmo porque não posso, mas de todos que precisam do meu sorriso, inclusive minha pequena flor.
Quisera eu que Déborah falasse, quem sabe ao completar dez anos, ou quinze, ou até mesmo se demorasse mais vinte anos para ouvir sua voz, eu iria ser um pouco mais feliz, e mesmo que ela ficasse tagarelando, igual a sua irmãzinha na hora dos meus programas favoritos ( que já nem sei quais são ) eu não iria pedir que se calasse nem um pouquinho. Talvez seja por isso que adoro a tagarelice da Barbarah, mesmo me impedindo de ouvir algo de interessante na televisão.
E ali, retalhando o nada com olhar, eu sorrio em silêncio...
Déborah está crescendo. Ela já completou oito anos. E cada nova descoberta sua é uma vitória para nós No entanto, o seu peso também começa a aumentar e isso faz o seu pequeno mundo se tornar um pouco menor, pois ela agora se resume na dedicação de nós três: Suelane, Eu e a Patrícia, uma amiga que trabalha em nossa casa, que fica ao seu lado na nossa ausência, além do nosso pequeno raio de sol que chamamos de Barbarah, pois se por um lado ficamos felizes com a sua evolução, que a faz descobrir o mundo que lhe cerca, querendo fazer só aquilo que gosta, por outro lado sentimos muito o quanto isso tem lhe afastado de outros braços, antes tão presentes na sua vida .
Quando vejo Barbarah, com menos de quatro anos já vestindo sozinha a fardinha do colégio, deixando para nós apenas a tarefa de dar o laço nos cadarços, enquanto Déborah, em silêncio permanece sentada no sofá, tão dependente até para se expressar naquilo que quer que façamos para ela, não deixa de doer um pouco, pouco não, muito, bem muito, dentro de mim. Mas essa dor passa logo quando chego perto dela e recebo um abraço forte. Deus ! Por que ela me abraça assim ? Parece até me pedir desculpas por alguma coisa! Por que ela continua em silêncio como uma pequena flor? Será que sabe que este seu beija-flor tem por ela o maior dos sentimentos? Deus, faça-me, por favor, ouvir um dia, quem sabe, os seus pensamentos.
Sempre haverá um silêncio em meu olhar, e esse pequeno silêncio eu chamo de segredo, pois somente à Déborah eu conto. Não sei porque, mas depois que converso com ela, eu me sinto bem mais feliz, é como se eu, diante de tanta ternura que vem do seu olhar, me aproximasse mais um pouco de Deus.
O tempo continua passando rapidamente por mim. Mas para minha pequena flor ele adormeceu um pouco, parece até que ele quer que ela seja sempre criança. E ela, em sua inocência, ao me ver calado lhe admirando, pede para que eu fale no seu ouvido, talvez nem saiba que faço silêncio na ilusão de poder, quem sabe, ouvir o seu pensamento.
Quisera eu que a flor pudesse dar um beijo no beija-flor, mas ela permanece alheia aos meus pedidos e sorri ao ouvir minha voz. E quando tenho que sair de casa para trabalhar, após beijar Suelane e Barbarah, vou aonde está me esperando com um sorriso, é como se ao beijá-la no rosto, ela beijasse meu coração, no entanto, quando está dormindo na minha saída para o trabalho, não pode retribuir os meus beijos, e isso inspirou-me a fazer estes versos:
Ao voar o beija flor / Sacudiu todo o galho. / levou nos olhos o orvalho,/ deixando as lágrimas na flor. / Ao acordar, a linda flor / Brincou com as gotas no galho, / Pensando ser orvalho / As lágrimas do beija flor.

Transcrito do Livro : “ O Diário de Déborah” Não publicado
Autor: Vaumirtes Freire ' O Poeta do Silêncio