" Meu sonho era vê-la um dia chorar ao me ver partir, ou quem sabe, sorrir ao me ver chegar, mas mesmo eu a chamando pelo nome, continuava perdida em seu silêncio, sorrindo para algo invisível que somente ela via...e eu chorava. "
Aquele pequeno mundo que Déborah se refugiava todos os dias, era por mim muito questionado. Eu não conseguia, de maneira alguma abrir a porta que pudesse me levar a ele, nem que fosse por algum instante.
Por mais que eu tentasse fazê-la notar minha presença, ela permanecia alheia a qualquer movimento ao seu redor, nem mesmo os brinquedos musicais, que por sinal eram inúmeros, nem os barulhos insistentes dos maracás que balançávamos na sua frente travam-lhe a atenção das argolas coloridas que rodava constantemente fazendo-lhe sorrir, numa alegria que me dava ciúmes. Eu não aceitava ser trocado por aquelas argolas...mas nada me fazia trazê-la para o meu mundo.
Girei várias vezes as argolas para Deborah, sempre que queria vê-la sorrir. Eu alimentava em mim uma esperança de um dia, quem sabe uma vez só, ela me percebesse.
A cada dia essa esperança aumentava. A cada mês eu percebia que algo estava mudando...eu perdia mais ainda Déborah para um pequeno mundo que nunca cheguei a conhecer. E mesmo pegando na minha mão várias vezes como se me pedisse para continuar girando as argolas, eu sentia que estava muito distante de mim...e ela já completava seus três aninhos de vida.
Todos os meus recursos pareciam esgotados. Meu sonho era vê-la um dia chorar ao me ver partir, ou quem sabe, sorrir ao me ver chegar, mas mesmo eu a chamando pelo nome, continuava perdida em seu silêncio, sorrindo para algo invisível que somente ela via...e eu chorava.
Chorei muitas e muitas vezes, enquanto ela sorria para as argolas coloridas que eu mesmo girava. Debinha era um pequeno anjo que eu não conseguia me comunicar. E na ansiedade de poder me comunicar com ela, eu, sem saber, era cúmplice, deste silêncio que roubava ela de mim.
Descobri que aquelas argolas coloridas, mesmo fazendo-a sorrir, lhe aprisionava numa outra dimensão, deixando-a distante de mm, mesmo estando ali, ao meu alcance. Por intermédio de alguns neurologistas, soube que o gesto de rodar qualquer coisa que estivesse ao seu alcance, era sintoma do altista, e que nós deveríamos impedi-la desse ato repetitivo.
Era então, essa a nossa missão: impedir que Déborah girasse qualquer objeto. E para cumprir tal missão, teríamos de perder o seu sorriso que ficou mais raro. Havia instante que eu, mesmo sabendo que não era correto, girava as argolas só para ver o seu sorriso.
Com o tempo, Debinha começou a se interessar por música, e quando algumas tocavam, ela começava a sorrir. Suelane e eu gravamos várias músicas que ela gostava e repetíamos sempre.
Entre muitas já passadas, hoje Déborah é apaixonada pela música “Amor Sem Limite” do rei Roberto Carlos. E quando Barbarah resolve fazer dupla com o rei, Debinha não dispensa uma gargalhada.
Porém, nada é mais importante hoje para ela do que a minha presença, por isso tenho renunciado a vários convites em que, por ocasião de horário, não posso levá-la. Ela parece já conhecer o som das minhas passadas, e ao perceber que estou chegando vem correndo ( engatinhando ) para os meus braços.
Suelane e Barbarah se revesam comigo na missão de fazê-la estar sempre presente no nosso mundo e as argolas coloridas se ainda existem, ela nem sequer percebe , pois seu mundo já não é mais tão pequeno e eu não poderia querer mais, pois como diz o rei: “Eu nunca imaginei que pudesse existir um amor desse jeito, do tipo que, quando se tem, não se sabe se cabe no peito.”
Transcrito Do Livro; “O Diário de Déborah” Autor: Vaumirtes Freire
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E quando estou lhe ensinando a andar e a vejo tão feliz, não acredito que possa existir algo que me faça mais contente, vendo-a assim, igual a um passarinho aprendendo a voar.
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