quinta-feira, 15 de março de 2007

“ O SILÊNCIO DA FLOR”


“ Se a flor pudesse voaria com o beija-flor, mas como não sabe voar ela o espera cheia de saudade desde o momento que ele parte. Talvez ela, na sua inocência, nem saiba, mas o beija-flor apesar de voar é um prisioneiro dela.”


Era uma manhã de sábado quando ao chegar em casa encontrei Debinha deitada na área em silêncio a contemplar a fina chuva que sacudia em seus cabelos doirados gotas de luz, então escrevi assim em seu diário.
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22 de Setembro de 1999

O sereno que cai nesta manhã forma uma cortina d´água que desfia sobre o pequeno jardim, onde você repousa seu olhar em silêncio. Talvez procure entre as flores bordadas de branco, o seu beija-flor.
Ah! Como eu queria ouvir a sua insistência me pedindo para ir tomar banho na chuva, ou quem sabe a sua reclamação por não ter comprado uma boneca que viu na vitrine de uma loja.
Como eu queria me impacientar por me encher de perguntas na hora do meu programa favorito, ao invés de vê-la ta silenciosa como se quisesse me perguntar algo sem saber como.
Seria tão bom se eu pudesse ter a felicidade de me aborrecer com você fazendo barulho na sala, ou até mesmo quebrar o enfeite de louça favorito.
Ah! Como eu queria me preocupar em ter que comprar o seu material escolar. Quem sabe eu não seria mais feliz, se tivesse que todo mês a obrigação de para a sua mensalidade escolar. Eu seria feliz mesmo que elas subisse todos os mês.
Seria um sonho para mim acordar com você me pedindo dinheiro para comprar a sua merenda escolar, e mesmo que eu não tivesse eu iria sorrir só por ouvir a sua voz me chamando papai.
Mas, talvez eu nem seria mais feliz como penso, pois felicidade igual a que sinto quando a vejo ta inocente, tão criança, lutando para conseguir dar os seus primeiros passos, é impossível.
Talvez eu pouco ligasse se você entrasse em casa correndo para os meus braços, porém quando a vejo estender aos mãos ao me ver chegar, como se quisesse criar asas e voar para o seu beija-flor, felicidade igual é impossível.
É difícil saber o que seria melhor quando já se é feliz, quando já conseguimos entender o porquê do silêncio das flores, mas uma coisa eu tenho a certeza, após conviver com você Déborah neste seu mundo cheio de mistério, eu sei que eu seria bem mais feliz se um dia eu pudesse ouvir, ao invés deste replica insuportável de silêncio, a sua voz me chamando de papai. Nem que fosse um única vez para depois se afogar outra vez neste mar de silêncio onde também naufrago os meus sonhos.
São 7horas e 40 minutos de sábado
O sereno ainda banha o jardim. Você esquece-o e silenciosamente vira-se, flagrando-me a admira-la, neste momento sorrir apaixonadamente, como se tivesse encontrado em mim o seu beija-flor.

Transcrito do Livro : O Diário de Déborah – Autor Vaumirtes Freire

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