sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A VOZ DA DÉBORAH


Déborah está a cada dia melhorando bastante a sua percepção, me surpreendendo a cada momento com atitudes que antes eram quase impossíveis de acreditar, já que, segundo alguns os médicos, o seu cerebro teve a área de entendimento bastante afetada pelas consecutivas convulsões, sendo mais de cinqüenta ao todo. E que, por não serem diagnósticadas corretamente por alguns pediatras que diziam ser aquilo apenas cólicas de recém nascidos, causaram lesões irreversíveis.


( É assim o nosso amanhecer... Me abraça e a levo para o banho. Escovo sua boquinha, lhe banho e depois de arrumada vamos com sua mãe deixar a Babu no colégio. Ela adora passear )
( ... )


Essa lesão fez com que Debinha, por muitos anos não me reconhecesse, nem sequer percebesse que eu estava ali, ao seu lado, igual um beija flor que mesmo podendo voar, tornava-se um prisioneiro de sua beleza angelical, do seu silêncio de flor. E ali, envolvido no mistério do seu olhar, eu cantava, chorava e contava-lhe meus sonhos. Pedia em minhas preces que olhasse nos olhos, mas era como se eu fosse transparente e seu olhar parecia me ultrapassar toda vez que eu bloqueava a linha do seu olhar, procurando inutilmente ser visto por ela que sequer percebia os inúmeros brinquedos que o cercava.


(...)

Quando estamos passeando a sós pelas lindas ruas de nossa querida Sobral, eu repouso o olhar no silêncio dos casarões antigos nas madrugadas dos fins de semana, então, quando menos espero, a escuto cantarolar ali ao pé do meu ouvido, pois sempre fica atrás de mim com a cabecinha deitada no meu ombro, a admirar as árvores que passa por nós em sentido contrário, balançando os galhos em adeus.



(...)

Ela é para todos nós, Suelane, Barbarah e eu, o nosso pequeno anjo que, apesar de ainda permanecer em silêncio, consegue falar conosco do seu jeitinho, cabe-nos ser tão especiais quanto ela para entendê-la melhor.
Sei que um dia ainda a ouvirei me chamar de papai, mas se isso não for possível, não importa, o importante é que eu já posso dizer que ouvi a voz da Déborah.


Fragmentos do texto A voz de Déborah
Transcrito do livro O Diário de Déborah

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