segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O SORRISO DA FLOR


O SORRISO DA FLOR


Naquela tarde, quando fiquei sabendo que Déborah tinha uma lesão no celebro , e que iria ser uma criança para sempre, eu tive uma conversa com Deus, e , confesso que no final eu falei que Ele não existia. Mas Ele sabia o tamanho da dor que havia no meu coração e perdoou-me.


Foi bastante dolorosa para mim essa notícia, tão dolorosa que ainda hoje ao lembrar, chega a fluir de meus olhos gotas de lágrimas. Vi todos os meus sonhos, que fabriquei durante noves meses, se evaporarem. Era como se eu não tivesse direito a sonhá-lo nunca mais. Pois os sonhos de vê-la correndo para os meus braços, ao ir pega-la na porta da escola, seria sempre um sonho. E para onde foram os sonhos de ouvi-la falar a sua primeira palavra ? Até a cena, que idealizei por bastante tempo, onde eu a ouvi me chamar papai, apagou-se de minha mente.


Procurei resposta par tudo. Pedi a Deus que me mostrasse, de algum modo, algo que me fizesse acreditar na sua existência. Mas, talvez por causa de tanta dor eu não sabia o que falava, e Ele, outra vez me perdoou.
Isolei-me do mundo. O meu mundo era minha filha, nada mais interessava, nada, nem mesmo os meus sonhos de consumo, profissionais e outros que carregava comigo deste muito tempo. Sempre que podia, perguntava a Deus por quê tantas pessoas más podiam falar, andar e serem independente, enquanto minha filha, e várias outros anjos azuis, teriam que ficar prisioneira num mundo tão limitado.


Aos pouco fui ouvindo a voz do silencio, comecei a perceber que os olhos tinham o seu próprio idioma, e no sorriso de Déborah encontrei finalmente Deus, pois eu o vejo agora no mais simples gesto que minha filha faz. Então, ao lembrar daquela tarde em que recebi aquela triste notícia, lembro-me que Debinha, no seu silencio, com o olhar perdido no nada, também sorria.


Ainda não consegui ouvir Déborah falando papai, e nem por isso deixo de ser feliz, pois felicidade igual a que sinto quando a vejo em silencio sorrindo para mim, como se pudesse ler meus pensamento, é impossível.

Um comentário:

Anônimo disse...

"O silencio é a mais profunda linguagem" No sorriso de Dedorah estao presentes as masi doces palavras, dirigidas nao apenas para você Vaumirtes, mas tambem para todos nós que temos privilegio de ter conhecido essa flor ta especial