Déborah é um pequeno anjinho que surgiu do céu para meus braços. É, sem dúvida nenhuma, mensageira da fé e da paz que transmite através do seu sorriso cheio de ternura. É uma fonte inesgotável de felicidade que transborda alegria, salpicando-nos de sonhos. E eu que um dia pensei que fosse feliz antes de conhecê-la.
(1997)
Naquela tarde, quando soube através do Dr. Gerardo Cristino, após examinar uma tumografia computadorizada, que Déborah tinha uma grave lesão no cérebro e que iria, pra sempre, limitar sua vida, que seria uma criança diferente das outras, e que iria precisar muito de nossa presença para que não se fechasse num mundo só dela, eu pensei que o mundo fosse acabar naquele momento. Lembro-me que ainda consegui perguntar se ela, um dia iria poder falar, mas obtive como respostas, por alguns segundos, o silêncio, talvez, tentando ganhar tempo para me responder sem me magoar. Só depois da minha insistência foi que falou: “ Você tem fé em Deus ? Então, tudo é possível” .O dia seguinte a essa tarde, enquanto tentava a transferência de minha filha para Fortaleza, sentei-me ao seu lado ali no leito da Santa Casa, e como estávamos sós , desfiz-me do desfarce de forte que usei para acalmar Suelane, e igual a uma criança só na multidão, pus-me a chorar.Questionei Deus várias vezes na minha dor: “Por que eu, justamente eu, entre milhões de pessoas ?” E por não saber o que dizia, Ele me perdoou. Desfiz-me dos meus sonhos para viver a minha realidade que não queria de maneira nenhuma aceitar. Não havia mais horizontes na minha vida. O que conquistar ? Se o que eu mais queria na vida eu perdi para uma síndrome de West. Abandonei o curso na faculdade de Tecnologia, mesmo faltando só dois semestres para concluir, porque achei que não havia mais sentido, pois o que fazer com aquele diploma na mão? se o que eu mais queria era que minha filha corresse para os meus braços ao me ver chegar. Que pelo menos pudesse me chamar de papai, que fosse simplesmente igual as outras crianças.Aos pouco, Deus foi respondendo todas as minhas perguntas. Então passei a questionar a mim mesmo: “Por que não poderia ser eu ? Por que deveria ser qualquer outra criança e não Déborah ?’’E eu passei a entender mais o sentido de cada minuto da minha vida, pois o tempo não parecia passar para Debinha. E quando eu via uma criança mais nova do que ela descobrindo o mundo, enchendo os pais de perguntas, enquanto minha filha permanecia em silêncio sem ao menos notar minha presença, aquilo, apesar da dor, fazia-me crer que havia um motivo maior de sua existência, então agarrei-me nesta fé e cheguei a conclusão de que tinha que ser eu o escolhido para ser o beija-flor desta flor que perfumava minha vida de amor e ternura.Se eu falar que nunca alguém jogou Déborah contra mim estaria mentindo. Pois já houve quem falasse que ela era um problema para minha vida e que eu deveria priorizar outras coisas mais importantes, caso contrário fechariam as portas para mim... e fecharam. Porém enquanto este intelectual materialista fechou uma porta, outros já tinham aberto várias. Mas Déborah, a cada dia cativava mais pessoas que se tornavam responsáveis por ela de alguma maneira.Até os três aninhos de idade, ela não percebia minha presença. Nem tão pouco a minha ausência a fazia ficar triste, isso era o que eu pensava por vê-la ali na minha frente e ao mesmo tempo tão distante.Suelane e eu, numa dedicação possível só para quem realmente ama, passamos a ser a outra metade dela, pois Debinha, ao contrário das outras crianças precisava de estímulos constantes para que não se distanciasse mais ainda de nós, pois se a deixássemos sozinha por alguns minutos ela caia no sono.Lembro-me que colocávamos um objeto na sua frente e lhe ensinávamos a tocá-lo, mas ela nem ao menos olhava para nós, parecia muito longe. Mas mesmo assim continuávamos a repetir esse movimento, talvez movido por uma fé, que até nós mesmos duvidávamos que existisse antes de conhecer nosso anjinho azul.Talvez eu já tivesse até no ponto de desistir, não sei, mas numa manhã, quando sentei-me novamente na sua frente para realizar nossa rotina, notei que o seus olhos rapidamente olharam dentro dos meus. Então procurei a linha do seu olhar rapidamente mas, não mais o encontrei.Três meses depois capitei outro olhar seguido de um sorriso, mas nem pude saber se demorou muito, pois comecei a chorar e abraçá-la. Deus existe ! Foi a única frase que consegui gritar. E daquele dia em diante eram comum a troca de olhares entre nós... Déborah, aos poucos nascia para o meu mundo.Mas Deus havia reservado para o mês seguinte outra demonstração de sua existência. E quando eu colocava os brinquedos sobre a caixa onde iríamos realizar uma terapia ocupacional, senti a falta de um deles. Eu o tinha colocado ali a poucos minutos, enquanto fui procurar os outros. Para a minha surpresa, Déborah o tinha pego e estava com o objeto na boca, e ainda sorria para mim com um olhar de anjo maroto. Foi impossível descrever tanta felicidade.Hoje Déborah é uma buliçosa de primeira. Adoro me aborrecer com ela mexendo nas minhas coisas, e se lhe digo que ela não pode mexer ali, ela teima, e nem por isso deixa de me fazer feliz com a sua teimosia de criança sapeca, o que realmente é, graças também a teimosia minha e de Suelane, que foi alimentada pela fé de que Deus sempre existiu.
Transcrito do livro : “O Diário de Déborah “Autor : Vaumirtes Freire – Membro do Centro Cultural dom José/Sobral
(1997)
Naquela tarde, quando soube através do Dr. Gerardo Cristino, após examinar uma tumografia computadorizada, que Déborah tinha uma grave lesão no cérebro e que iria, pra sempre, limitar sua vida, que seria uma criança diferente das outras, e que iria precisar muito de nossa presença para que não se fechasse num mundo só dela, eu pensei que o mundo fosse acabar naquele momento. Lembro-me que ainda consegui perguntar se ela, um dia iria poder falar, mas obtive como respostas, por alguns segundos, o silêncio, talvez, tentando ganhar tempo para me responder sem me magoar. Só depois da minha insistência foi que falou: “ Você tem fé em Deus ? Então, tudo é possível” .O dia seguinte a essa tarde, enquanto tentava a transferência de minha filha para Fortaleza, sentei-me ao seu lado ali no leito da Santa Casa, e como estávamos sós , desfiz-me do desfarce de forte que usei para acalmar Suelane, e igual a uma criança só na multidão, pus-me a chorar.Questionei Deus várias vezes na minha dor: “Por que eu, justamente eu, entre milhões de pessoas ?” E por não saber o que dizia, Ele me perdoou. Desfiz-me dos meus sonhos para viver a minha realidade que não queria de maneira nenhuma aceitar. Não havia mais horizontes na minha vida. O que conquistar ? Se o que eu mais queria na vida eu perdi para uma síndrome de West. Abandonei o curso na faculdade de Tecnologia, mesmo faltando só dois semestres para concluir, porque achei que não havia mais sentido, pois o que fazer com aquele diploma na mão? se o que eu mais queria era que minha filha corresse para os meus braços ao me ver chegar. Que pelo menos pudesse me chamar de papai, que fosse simplesmente igual as outras crianças.Aos pouco, Deus foi respondendo todas as minhas perguntas. Então passei a questionar a mim mesmo: “Por que não poderia ser eu ? Por que deveria ser qualquer outra criança e não Déborah ?’’E eu passei a entender mais o sentido de cada minuto da minha vida, pois o tempo não parecia passar para Debinha. E quando eu via uma criança mais nova do que ela descobrindo o mundo, enchendo os pais de perguntas, enquanto minha filha permanecia em silêncio sem ao menos notar minha presença, aquilo, apesar da dor, fazia-me crer que havia um motivo maior de sua existência, então agarrei-me nesta fé e cheguei a conclusão de que tinha que ser eu o escolhido para ser o beija-flor desta flor que perfumava minha vida de amor e ternura.Se eu falar que nunca alguém jogou Déborah contra mim estaria mentindo. Pois já houve quem falasse que ela era um problema para minha vida e que eu deveria priorizar outras coisas mais importantes, caso contrário fechariam as portas para mim... e fecharam. Porém enquanto este intelectual materialista fechou uma porta, outros já tinham aberto várias. Mas Déborah, a cada dia cativava mais pessoas que se tornavam responsáveis por ela de alguma maneira.Até os três aninhos de idade, ela não percebia minha presença. Nem tão pouco a minha ausência a fazia ficar triste, isso era o que eu pensava por vê-la ali na minha frente e ao mesmo tempo tão distante.Suelane e eu, numa dedicação possível só para quem realmente ama, passamos a ser a outra metade dela, pois Debinha, ao contrário das outras crianças precisava de estímulos constantes para que não se distanciasse mais ainda de nós, pois se a deixássemos sozinha por alguns minutos ela caia no sono.Lembro-me que colocávamos um objeto na sua frente e lhe ensinávamos a tocá-lo, mas ela nem ao menos olhava para nós, parecia muito longe. Mas mesmo assim continuávamos a repetir esse movimento, talvez movido por uma fé, que até nós mesmos duvidávamos que existisse antes de conhecer nosso anjinho azul.Talvez eu já tivesse até no ponto de desistir, não sei, mas numa manhã, quando sentei-me novamente na sua frente para realizar nossa rotina, notei que o seus olhos rapidamente olharam dentro dos meus. Então procurei a linha do seu olhar rapidamente mas, não mais o encontrei.Três meses depois capitei outro olhar seguido de um sorriso, mas nem pude saber se demorou muito, pois comecei a chorar e abraçá-la. Deus existe ! Foi a única frase que consegui gritar. E daquele dia em diante eram comum a troca de olhares entre nós... Déborah, aos poucos nascia para o meu mundo.Mas Deus havia reservado para o mês seguinte outra demonstração de sua existência. E quando eu colocava os brinquedos sobre a caixa onde iríamos realizar uma terapia ocupacional, senti a falta de um deles. Eu o tinha colocado ali a poucos minutos, enquanto fui procurar os outros. Para a minha surpresa, Déborah o tinha pego e estava com o objeto na boca, e ainda sorria para mim com um olhar de anjo maroto. Foi impossível descrever tanta felicidade.Hoje Déborah é uma buliçosa de primeira. Adoro me aborrecer com ela mexendo nas minhas coisas, e se lhe digo que ela não pode mexer ali, ela teima, e nem por isso deixa de me fazer feliz com a sua teimosia de criança sapeca, o que realmente é, graças também a teimosia minha e de Suelane, que foi alimentada pela fé de que Deus sempre existiu.
Transcrito do livro : “O Diário de Déborah “Autor : Vaumirtes Freire – Membro do Centro Cultural dom José/Sobral
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